Ferenc I. L. Zámolyi Qui maio 22 2014, 18:21
Saudações, pessoal
Muito bacana o interesse despertado pela matéria sobre o Sassi 15. Inclusive, trazendo ao debate reminiscências sobre as dificuldades e desafios enfrentados em outros tempos e sobre a evolução da tecnologia de motores e de sua disponibilidade hoje em dia.
Algumas considerações a respeito. Como comentado acima, quando o Sassi apareceu no mercado, não existia a possibilidade de se importar motores estrangeiros modernos. Para se conseguir um motor “bom”, recorria-se a inúmeros subterfúgios e recursos, a custos exorbitantes. O Sassi se tornou a opção daqueles que queriam um motor a um custo razoável, em geral iniciantes ou pessoas que desejavam se iniciar no aeromodelismo motorizado.
Na época, combustível com nitrometano era um sonho de uma noite de verão. Poucos conheciam seu uso, ou tinham acesso ao produto. Com exceção do pessoal “de ponta”, nos grandes centros como São Paulo, o combustível se limitava à mistura de álcool metílico e óleo de mamona, muitas vezes de qualidade até duvidosa. Se você conseguia fazer seu motor funcionar com isso, muito bem. Se não, já era. Para a grande maioria, discussões sobre conteúdo de nitro, proporção se óleo, aditivos, etc., tão corriqueiras hoje, eram um terreno totalmente desconhecido.
Em termos de produção e controle de qualidade, nossa indústria era muito prejudicada. Quem tem noções de usinagem e metalurgia sabe que a obtenção de qualidade e padronização exigem elevados investimentos em máquinas operatrizes, gabaritos, tratamento térmico, obtenção de materiais adequados, etc. Isso só é viável com grandes volumes de fabricação, para garantir o retorno do investimento. Um mercado limitado, como era (e, de certa maneira ainda é) o nosso, não permitia isso. Se olharmos os fatos, não há como negar que os que se propuseram a fabricar motores de aeromodelo no Brasil o fizeram de uma forma quase abnegada, por gostar da atividade. Um mercado para algumas dezenas ou mesmo centenas de motores/ano não permite grandes investimentos. Só para efeitos de comparação, quando um fabricante como a OS, por exemplo, lança um novo produto, o faz em séries de pelo menos 100.000 exemplares. Ai o investimento se torna viável. Seria interessante se alguém, com conhecimento de causa, pudesse informar a quantidade de motores Sassi fabricados e em que espaço de tempo. Seria um registro histórico!
Acho que o Sassi 15 tem de ser olhado sob esse prisma. Certamente não há como compara-lo com produtos modernos disponíveis atualmente. Tem muitas limitação e deficiências, mas como disse no texto que abriu este debate, é possível usá-lo, desde que não se espere dele um desempenho acima de suas possibilidades. Admito que não é o motor que alguém compraria hoje, para se iniciar no esporte/hobby. Mas, para os que têm interesse no VCC brasileiro, certamente tem um lugar garantido, seja em um avião “de época”, seja como peça de coleção.
Tapxure, o relato de suas “peripécias” dos velhos tempos me despertou memórias de décadas atrás. O pessoal, hoje, não tem nem ideia de como era difícil ser aeromodelista no Brasil 40, 50, 60 anos atrás. Felizmente, estão em uma outra realidade, com acesso ao que há de melhor no mundo. Quem sabe uma hora dessas eu tome coragem e relate como era ser aeromodelista pobre, no interior do Estado do Rio, na década de 50. Quando nada, vai servir para reflexão e, quem sabe, animar outros a contar suas histórias. Afinal, conhecer o passado é bom, para valorizar o presente!
Abraços a todos
Ferenc